domingo, 8 de junho de 2008

Descoberta

De dentro do ônibus parado no terminal, enquanto espero a partida, costumo observar o movimento lá fora, encatado com o ir e vir frenético das pessoas, andando aos esbarrões, com fones no ouvido, sempre apressadas, quase nenhum sorriso, olhares vazios, presas dentro dos seus próprios problemas, vivendo vidas paralelas como se não estivéssemos todos no mesmo planeta.
Então um dia surpreendi um ponto de cor em meio ao cinza rotineiro. Estava longe. A princípio achei que me enganava, como já havia acontecido várias vezes antes. Como quando rondava o quarteirão do prédio onde ela mora – ou morou, não sei mais – na esperança de vê-la entrar ou sair, ou quando a procurava na fila do cinema, na livraria ou em qualquer outro lugar onde imaginava que ela pudesse estar.
Não, era real. Abraçava uma pasta. O mesmo cabelo escuro que roçava de leve os ombros, o mesmo jeito de menina que por tanto tempo me fez o homem mais feliz do mundo.
Minha primeira namorada. Meu primeiro amor. Minha primeira mulher. Meu primeiro grande erro. Estava lá, tão perto e tão longe. Nunca compreendi porque a deixei sair da minha vida. Nunca aceitei perder seu amor.
Encostei o rosto no vidro da janela tentando não a perder de vista. Ela parou, olhou o relógio e sorriu. Esperei anos por aquele sorriso. Eu também sorri enternecido e a amei novamente naquele momento. Entregaria minha vida a ela.
Não entreguei. Ela sequer me viu. Apressou o passo e alcançou o ônibus. Sonho com seu sorriso todas as noites.

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