domingo, 12 de abril de 2009

De outros demônios

Os olhos pesados refletidos no retrovisor do carro e no peito uma angústia de 2 toneladas. Pudesse ficaria aqui por toda a noite, aqui onde me parece, nada nem ninguém pode chegar. Sinto falta de pequenas coisas que no correr dos dias, com os minutos e as horas voando tão freneticamente, perdem sua real importância. Sinto-me, agora, uma sombra. O que eu poderia ter sido? Em que travessa de que avenida me perdi? Em que esquina vendi minha alma por um cigarro? Não há significado nenhum em levantar-me de manhã e dar alguns passos até o banheiro. O reflexo que vejo ao escovar os dentes não é meu. Nem esses dentes me parecem meus. Parei de sonhar e então deixei de existir. E tento em desespero voltar a acreditar mas a vida volta em bofetadas a lembrar-me de que não é mais tempo para sonhos. São dias de guerra, de sangue e carne exposta para lobos e abutres. Não há mais alimento para a alma. Almodóvar me salpica esperança de que seja tudo um pesadelo, mas assim que leio FIM percebo que é a ilusão um analgésico momentâneo. De volta à vida não suporto encarar meus olhos no retrovisor do carro, abaixo a cabeça e mergulho no escuro e o que mais me atormenta é ser impossível fugir de mim mesma.