terça-feira, 29 de julho de 2008

Ele:

O telefone toca uma vez. Hora ruim. Toca de novo. Devo atender? Mais uma vez.
- Alô.
- Oi.
Conheço aquela voz. Hora ruim. Não tenho vontade de conversar agora.
- Está ocupado?
Minha chance.
- Sim. – ainda há tempo para arrependimento – Estou almoçando – minha consciência nunca me incomodou muito, é verdade, mas ainda tento – Algum problema?
- Não, só queria bater papo. Não quero atrapalhar seu almoço. Tchau, beijo.
- Beijo.


Ela:

Penso nele e quase consigo vê-lo se fecho os olhos. Que bobagem. Afasto a imagem. Mas estou em uma sala de espera, nada a fazer, outra imagem me invade. Podia ligar, ouvir a voz dele, bater papo, passar o tempo. Não, melhor não. Chatice isso de ficar ligando por nada de importante. Mas como será que ele está? Fazendo o que a essa hora.
Pego o telefone, olho o número, nunca decorei, por que será, olho para ele tantas vezes. Nunca decorei. Deixo o telefone de lado. Suspiro. Pego o telefone. Chamando.
Toca uma vez. Ele atende sempre rápido. Toca de novo. Pode não estar em casa. Mais uma vez. Se não atender dessa eu desligo.
- Alô
- Oi
Pausa. Não devia ter ligado.
- Está ocupado?
- Sim.
Caramba. Sabia que não deveria ligar.
- Estou almoçando.
É, super ocupado!!!
- Algum problema?
Sim, burrice congênita, sem cura ou tratamento.
- Não, só queria bater papo. Não quero atrapalhar seu almoço.
Já estou rindo de mim mesma
- Tchau, beijo
- Beijo
Da próxima vez mando uma mensagem.

domingo, 13 de julho de 2008

Luizinha

Essa foi minha mais linda história de amor. Eu tinha 16 anos, muitos sonhos e pouco juízo. Ela tinha mais ou menos 14, seu nome era Luíza, mas todo mundo dizia Luizinha, a Luizinha da Dona Gertrudes. Doce e encantadora. Um broto verde de mulher. Costumávamos nos cruzar na praça, na venda e no pátio do colégio, mas eu nunca conseguia falar com ela, ou estava acompanhada ou as palavras acabavam presas na minha garganta.
E eu a amava tanto! Sonhava com ela todas as noites e as vezes perdia o sono e passava a madrugada na soleira da porta olhando para o céu azul salpicado do luzinhas, luizinhas.
Mas então vieram as festas de junho. E no Nordeste festa junina é coisa seríssima. A cidade toda se movimentando, vestidos sendo feitos para a quadrilha, bandeirinhas coloridas em confecção, o salão da igreja transformado em oficina, quase um barracão de escola de samba. Era a minha chance!
Enquanto todos corriam com os preparativos eu trabalhava uma hora a mais todo o dia. Guardei dinheiro suficiente para comprar um anel. Não um anel caro, obviamente, primeiro porque em Afogados nem havia onde comprar jóias, segundo porque eu teria que trabalhar anos a fio todas as horas do dia para poder comprar uma jóia.
Implorei para um amigo que muito a contragosto trocou de par comigo na quadrilha e eu dancei com Luizinha. Eu estava nervoso e tinha a impressão de que os passos estavam se repetindo sem parar, tal era minha ansiedade.
Acabada a quadrilha aproveitei a confusão de gente. As roupas parecidas, rostos pintados. Luzes em profusão. Peguei Luizinha pela mão e fugimos da festa para um colina afastada. Lá de cima a festa me lembrava as luzes de natal, piscando coloridas. Um formigueiro de pessoas indo e vindo alheias ao momento mágico que vivíamos.
Tirei do bolso a caixinha com o anel e coloquei na mão dela. Quando abriu a caixinha um sorriso largo e branco estampou seu rosto e consegui ver a mim e à lua nos olhos dela. Luizinha não me disse nem uma só palavra. Colocou o anel do dedo, deu-lhe um beijo e desceu correndo em direção à cidade. Olhei para o céu, centenas de Luizinhas sorriam para mim.

Danielle Gomes

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Lembranças de Janeiro

Esta não é uma carta e amor. É um refúgio. Um forma de apaziguar o turbilhão de sensações que passaram a fazer parte da minha rotina. Esta é minha tentativa de desgastar minhas lembranças na esperança de que elas se desfaçam e eu deixe de viver das sombras do que foram as últimas das tardes de janeiro.

Tardes que me trouxeram de volta para o mundo dos homens. Que me fizeram novamente sentir calor no coração, sorrir com sinceridade, olhar o mundo colorido. Havia esquecido como estar viva é tão importante e quanto ainda há no mundo para conhecer, entender, descobrir. Deixei de ter medo da vida, medo da dor e do amor.

Ganhei outra chance. Outras oportunidades. Como apreciar o pôr do sol por alguns minutos, mesmo que da janela do escritório, andar na chuva, ver meu rosto nos olhos de outra pessoa, dividir uma garrafa de vinho, dormir abraçado, ler poesia, cantar no chuveiro. Prazeres que haviam sido deixados no passado.

Por isso, por mais lágrimas que tenha derramado. Por maior que tenha sido a dor que senti, cada segundo de janeiro foi gratificante. Fui intensamente feliz. Amei e amar não pode nunca ser ruim, se é ruim não é amor.

Amei e o meu amor foi incrivelmente grande, intenso e insensato, foi puro e insinuante, foi solitário e aconchegante. Amei um amor gratuito, sem retorno e sem cobranças. Amei e a herança desse amor é a mais bonita que pode existir, a eternidade.

Então o que posso dizer ao meu amor além de ‘obrigada’. Obrigada pelos sussurros, por seu hálito quente no meu pescoço e por todas as promessas veladas que nunca poderão ser cumpridas.

Danielle Gomes

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Sonhei Com As Suas Costas Nuas

sonhei com as suas costas nuas
e que voce me estendia a mão
que era meu o seu olhar e o seu sorriso
sonhei que andava na praia só
e minha sombra se dividia em duas
sonhei que me chamava Adão
e morava com voce no Paraiso
sonhei que Deus me criava do pó

Janilto Santos