domingo, 13 de julho de 2008

Luizinha

Essa foi minha mais linda história de amor. Eu tinha 16 anos, muitos sonhos e pouco juízo. Ela tinha mais ou menos 14, seu nome era Luíza, mas todo mundo dizia Luizinha, a Luizinha da Dona Gertrudes. Doce e encantadora. Um broto verde de mulher. Costumávamos nos cruzar na praça, na venda e no pátio do colégio, mas eu nunca conseguia falar com ela, ou estava acompanhada ou as palavras acabavam presas na minha garganta.
E eu a amava tanto! Sonhava com ela todas as noites e as vezes perdia o sono e passava a madrugada na soleira da porta olhando para o céu azul salpicado do luzinhas, luizinhas.
Mas então vieram as festas de junho. E no Nordeste festa junina é coisa seríssima. A cidade toda se movimentando, vestidos sendo feitos para a quadrilha, bandeirinhas coloridas em confecção, o salão da igreja transformado em oficina, quase um barracão de escola de samba. Era a minha chance!
Enquanto todos corriam com os preparativos eu trabalhava uma hora a mais todo o dia. Guardei dinheiro suficiente para comprar um anel. Não um anel caro, obviamente, primeiro porque em Afogados nem havia onde comprar jóias, segundo porque eu teria que trabalhar anos a fio todas as horas do dia para poder comprar uma jóia.
Implorei para um amigo que muito a contragosto trocou de par comigo na quadrilha e eu dancei com Luizinha. Eu estava nervoso e tinha a impressão de que os passos estavam se repetindo sem parar, tal era minha ansiedade.
Acabada a quadrilha aproveitei a confusão de gente. As roupas parecidas, rostos pintados. Luzes em profusão. Peguei Luizinha pela mão e fugimos da festa para um colina afastada. Lá de cima a festa me lembrava as luzes de natal, piscando coloridas. Um formigueiro de pessoas indo e vindo alheias ao momento mágico que vivíamos.
Tirei do bolso a caixinha com o anel e coloquei na mão dela. Quando abriu a caixinha um sorriso largo e branco estampou seu rosto e consegui ver a mim e à lua nos olhos dela. Luizinha não me disse nem uma só palavra. Colocou o anel do dedo, deu-lhe um beijo e desceu correndo em direção à cidade. Olhei para o céu, centenas de Luizinhas sorriam para mim.

Danielle Gomes

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