quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ensaio sobre... o que mesmo?

Estou sentada no banco do ônibus e Luiz Gonzaga canta o sertão no meu fone de ouvido. No banco da frente duas moças, bem jovens, conversam de forma animada e falam relativamente alto. É embaraçoso revelar, mas não contive a curiosidade, calei a asa branca para ouvir que assunto poderia ser tão emocionante a ponto de causar aquelas feições de espanto e alvoroço.
Eu só as via de costas ou de perfil. Uma negra, lábios bonitos, voz forte, a outra branca, cabelos lisos e negros, parecia ser ainda mais nova, talvez nem mesmo vinte anos. “Claro que estava com a cara fechada, ele tinha que levar aquela sonsa? A gente não tinha combinado um encontro de casais?”. A moça branca riu alto. “Ué... era de casais, por isso ele levou a noiva”.
A outra mostrou um fuzilamento no olhar. “Desculpa, amiga, mas ela é noiva dele, não é? O cara não decide”, respondeu a branquinha se desculpando. Um suspiro e a outra amiga tirou um papel da bolsa... “Agora ele decide! Olha isso”.
A jovem com o papel na mão parecia não respirar e eu quase não respirava também. Meu instinto dizia para pular no banco da frente e puxar aquele papel das mãos dela. Foram só alguns segundos, mas cheguei a pensar no que fazer se não conseguisse descobrir o que se passava.
“Grávida?! Meu Deus e o que você vai fazer? Acabou de mudar de emprego e a sua mãe foi embora de São Paulo!!!”. A negra deu um sorriso largo. “Que grávida nada! Acha que eu vou vacilar assim?! É falso. Vou mostrar isso pra ele e se o mané não largar da sonsa, vou lá e mostro pra ela... depois sei lá, faço um chororô e digo que perdi o bebê”.
Não fiquei sabendo da continuação daquela conversa. Corri a aumentar a voz do mestre Gonzaga que já cantava o cheiro no cangote da Carolina num xote gostoso e ingênuo.

Nenhum comentário: