sexta-feira, 19 de março de 2010

Leite com Canela


Aquela moça ali na ponte, o sol se pondo... impossível não criar uma história inteira para ela. Eu a via menina. Longos fios de cabelo dourado penteados em duas tranças que tocavam o meio das costas. Olhinhos azuis pequenos e divertidos. Um vestido de organza azul e babado branco. Correndo, pulando dançando.
Pude vê-la mais tarde também, abraçada aos cadernos caminhando em direção à escola. Duas lágrimas correndo pela face rosada. A primeira briga, o primeiro namorado, a primeira dor de amor.
Tão bela ali debruçada na ponte, olhando a água que corria pelo riacho. Tinha a pele branca e salpicada com pequenas sardas, como leite com canela. Por vezes levantava os olhos em direção ao céu como a procurar uma resposta às questões que lhe passeavam pela mente. Já não tinha mais os cabelos longos, eles agora roçavam delicadamente seu pescoço e embora o vento os jogasse para todas as direções de tempo em tempo, acabavam por voltar ao estado inicial comportadamente.
Eu não podia mais olhar para ela como um homem normalmente olha uma mulher. Era como se ela houvesse se tornado algo sagrado e intocável. Não pude falar com ela, só observá-la de longe e dar-lhe um passado, um belo futuro e um nome, como a uma personagem de romance. Caroline. Carol.
Fiquei ali, hipnotizado por bastante tempo. Até que ela virou o rosto, sorriu para mim, virou-se e foi embora. Caminhando delicadamente como se não tocasse o chão, até desaparecer na estrada.

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