terça-feira, 21 de outubro de 2008

Como passarinho

Seus olhos são tão calmos, tão profundos, tão serenos. Perco a mim mesma detro deles. Não posso resistir, mergulho num não sei quê que me puxa e me prende até eu não mais responder por mim. Quase uma doença. Um vírus que me consome. Eu tento desviar o olhar mas uma angústia lancinante toma conta do meu corpo, a cabeça rodopia e quando me dou conta lá estou eu, dentro dos seus olhos. Deixa-me ir, eu suplico, mas você não permite. Sustenta meu olhar com toda força do mundo. Eu te pertenço há tanto tempo e com tanta intensidade que não acredito mais haver vida fora do seu mundo. O cativeiro, contudo, me machuca, todo o cativeiro é sofrimento, ainda que seja o mais doce deles. Preciso ser livre mesmo que não sobreviva em liberdade, como os passarinhos nascidos na gaiola. Preciso sair de dentro desses olhos castanhos e conseguir ver novamente meus próprios olhos, maremotos e furações, angústia, ansiedade, medo. Há uma bagunça dentro de mim. No início me senti protegida dentro do seu mundo racional e organizado, agora tenho que ir, encontrar sentido na desordem do meu ser. Abre seus olhos, amor, e deixa-me ir.


Um comentário:

alemaun disse...

belo texto...
fugir daqui ou de lá nos leva a novas prisões...a mudança é fundamental.
até