sexta-feira, 23 de maio de 2008

Tarde de Outono

O Sol está agradável. Morno e suave, típico das tardes de outono. É até consolador uma tarde de outono em pleno outono! Com essa história toda de aquecimento global acabei ficando meio perdida, nunca sei qual é exatamente a estação.
Estou sentanda em um banco coberto pela sompra de uma mangueira. A praça está pouco movimentada. É horário de aula e as crianças ainda não apareceram para brincar. Apenas as moças de uniforme branco com bêbes e um casal de namorados. Há um homem também.
Eu finjo que leio um livro, mas o observo caminhar. É um homem intrigante. Não sei ao certo porque, mas é intrigante. Misterioso. Isso mesmo. Misterioso é uma palavra adequada. Tem as mãos nos bolsos e caminha como se desse pequenos chutes no ar. Olha para o céu. Para os pombos na praça. Para os bebês nos carrinhos. Sorri rapidamente.
Os óculos escorregam até a ponta do nariz. Ele os empurra com a ponta do dedo, mas logo eles voltam a escorregar. Gostaria de observar seus olhos. Ele dá várias voltas na praça mas nunca perto o bastante de mim.
Em segundos eu tenho um plano. Característica feminina: pensar rápido. Não sei de onde tirei isso, talvez de uma das revistas que eu leio na sala de espera do dentista. Na próxima consulta devo levar um livro.
Coloco o plano em prática. Levanto como se quisesse atravessar a praça e mudar de banco. Calculo os passos. Finjo que continuo a ler o livro enquanto caminho. Mesmo que ele esteja me olhando vai imaginar que passa por mim antes que eu o alcance. Eu apresso os passos e pronto! Colidimos e o meu livro cai no chão.
Ele precipita-se a ajudar. É gentil. Eu fixo meu olhar no dele e, por surpresa ou curiosidade ele o sustenta. Tem lindos olhos castanhos. Não sei o que vejo lá no fundo deles, mas é agradável. Tem um semblante cansado. O rosto marcado de quem tem alcançou a metade da vida. Ele segura minha mão e me ajuda a levantar. A senhora está bem? Respondo que sim com um meio sorriso. Tenha um bom dia, então. Ele empurra os óculos com a ponta do dedo, coloca as mãos nos bolsos e atravessa a rua.

Danielle Gomes

Um comentário:

Ricardo disse...

Interessante Dani...prendeu minha atenção...qro mais...rs